quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vida nova, nova vida


Na agonia do deserto
Em que me encontro
Escuto o silêncio apenas
Interrompido pelos uivos do vento
O sol castiga a imensidão que o meu olhar alcança.
Cega-me a luz
Corta-me o vento.
O firmamento não tem fim,
Ai de mim, ai de mim.
Quem sou eu nesta loucura sem fim?
O calor me derrete
O frio me congela
Isso é vida?
Os meus gritos são apenas murmúrios sem eco
Quem me ouve não me escuta.
O tempo passa, passa e não passa.
Tudo está parado.
Aos poucos aceito a situação, fazer o quê?...
Fazer o quê?
E se eu cantar?
Não é sempre o que me acalma?
Então o encanto em que me encontro aos poucos se dissipa...
Não abro a boca, mas escuto o meu canto...
Envolve-me a ilusão de não estar só...
Deixo para trás o desamparo e me largo...
A areia faz-se meu colchão.
Aconchego-me e aguardo.
Não vai demorar.
Já posso sentir quem veio me buscar.
Doce alívio. Ternura imensa.
Compaixão dos que nada esperam
Dos que apenas doam.
“Bom descanso”- me dizem.
Entrego-me confiante e segura.
Aqui não é mais o meu lugar.

09/09/09

quinta-feira, 16 de julho de 2009


As estações

Ao longe persigo a bruma,

Senhora do meu segredo

Como caixa de Pandora,

Senhora, minha senhora,

Esposa minha,

Meu degredo.

Ao longe os ventos me lembram

O profundo de mim,

Qual folha caída

Em rubro Outono,

Rasgando o ventre da terra

Acesa pelo calor tardio,

Em espera do vento frio

Que o Inverno carrega.

Lamentos, só lamentos.

O tempo não muda.

E, então, a alvorada explode

Em manhã de Primavera.

Ainda as violetas se escondem

No verde das suas folhas.

Logo as roseiras majestosas,

De todos os cheiros,

De todas as cores.

Brilham, perfumam

Embelezam...

O Verão que as acorda.

Delfina 16/07/2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Minha luta

Com passos apressados corro

Acompanhando a ansiedade

Senhora da minha confusão.

Às margens do esquecimento

Descanso meus pés descalços,

Exauridos, flutuantes,

Sem embargo, sem noção.

O cume do sonho impossível

Impassível ao meu suor

Olha mais para o alto

Ignorando a minha dor.

Na falta de energia

Esmoreço, recobro as forças,

Desisto. Está tão longe...

E o abandono, senhor absoluto

Da minha luta,

Escarnece com os ventos.

O sopro do inimigo empurra-me

Encosta abaixo...

Oh, desalento meu!

Tudo escurece. Melhor assim,

Escuto mas não vejo a felicidade do vencedor.

Permaneço quieta.

O silêncio é trovão

Aquietado pela voz da esperança.

“Chegaste no fundo...

Não há como descer mais...

Respira fundo, estou aqui.

Levanta, recomeça a subida.”

Como se a voz movesse meu corpo,

Recomeço. A principio, devagar.

Depois já fortalecida pela voz amiga,

Subo retomando meu destino

Sem pressa. No meu tempo.

Mas confiando.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Momentos

Verdade ou Mentira



Quando você acredita corre risco de se decepcionar.
Quando você não acredita corre o risco de não viver.
Viver acreditando é “dar a cara para apanhar”.
Viver se decepcionando é cansar sem caminhar.

Acredito em tudo de cara,
Tenho fé no que me dizem.
Promessas são todas verdades,
Verdades são todas possíveis.
E o corpo quebrado por tantas verdades,
Dobra-se impotente, sem força, quase sem vida.
De que valeu acreditar?
De que valeu a verdade?
Faz-se de conta que se vive?
Faz-se de conta que é verdade?
Faz-se de conta...Faz-se de conta.
E a mentira?
O que se faz com a mentira?
Faz-se de conta que é verdade?
Faz-se de conta que se acredita?
A vida precisa acreditar.
Acreditar em outra vida.
Faz-se luz com a verdade,
Faz-se noite com a mentira.
Escolho sempre a verdade,
Disfarçada de mentira.
Verdade que não magoa,
Não se alimenta da vida.
Somem as forças que restam,
No rio que leva a vida,
E essa vida fenece
Antes da foz, ali,
Na curva do rio,
Na curva que guarda a vida.


03/02/09

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Desassossego

Com o crepúsculo, alimentado pelo aroma sedutor das rosas do meu modesto jardim, chega o meu encontro comigo.
Encontro que, adiado não resolvido, aguarda respostas para o desassossego que rege meus dias.
Me vejo seca de energia, respingando dor.
Uma voz constante ecoa nos meus ouvidos loucos…-não é para tanto, não é para tanto- e faço-me de surda. Finjo que durmo, não é comigo.
Dentro de mim a zanga mistura a culpa, e eu bebo o coquetel do desconforto.
Anos de solidão, dos quais não queixo, labuta incessante que mantem meu ser em riste. Tantos perto, e, tão longe me encontro.
Quem pode estar comigo? Eu, só eu posso. Não se divide o que se sente.
Quem me entende não me entende. Finjo que entende. Faz bem para a alma de quem entende.
Me recolho para outro lugar, outro tempo, onde me encontro e ninguém me encontra.
E, meu desassossego continua eterno.

Viagem


Iniciei uma viagem ao fundo do mar. Só, na minha viagem.

Deixei medos, deixei inseguranças, soltei todas as amarras e me lancei ao mar.

Comigo levei a fuga, a esperança, a minha liberdade, o meu eu dividido. À medida que nadava em direção ao nada observava a facilidade com que me despia de tudo.

Quanto mais me aproximava do abismo, mais atraída me sentia pelo seu chamado. Doce voz nos meus ouvidos, qual canto de sereia na cabeça de Ulisses. Mas não havia tronco para prender-me, nem marinheiros corajosos que impedissem a minha caminhada. Aguardava-me o rei das águas. Não Netuno. Quanto engano.

Aqui não existem deuses, nem sereias.

Na escuridão que me cerca sinto o aconchego das águas, que não pesam, que abraçam apaixonadas e esmagam docemente o meu corpo já entregue.

Momento de êxtase, de total entrega.

Os olhos que enxergam, mergulham na noite e descansam na eternidade.

De volta


Estou de volta...usarei este blog para as minhas palavras soltas que falam de mim. A partir de agora o chuvasdeverão será menos íntimo, sem deixar de ser pessoal.